quarta-feira, 16 de março de 2011

O desastre radioativo de Chernobyl

Nos últimos dias toda a atenção do mundo esteve voltada para a tragédia do tsunami no Japão em conseqüência de um tremor de terra na escala de 8,9 em magnitude. O tremor ainda trouxe outras conseqüências como duas explosões na usina nuclear de Fukushima, espalhando fumaça radioativa à quilômetros de distância. A quantidade de mortos encontrados ultrapassa os 2 mil e a previsão é que esse número dobre! Tal disastre já é comparado ao de Chernobyl, ocorrido na década de 80,  que teve proporções ainda mais devastadoras. Vamos relembrar o que aconteceu nesse obscuro episódio.


O desastre de Chernobyl (Fonte: news.bbc)

Chernobyl

Na madrugada de 26 de abril de 1986, um dos quatro reatores nucleares da usina de Chernobyl explodiu. Tudo começou durante o turno da noite, na virada do dia 25 para o dia 26 de abril, quando engenheiros começaram um experimento para ver se o sistema de bomba de refrigeração ainda podia funcionar usando a energia gerada a partir do reator em baixa potência para auxiliar o abastecimento de eletricidade em caso de falhas. Cerca de 2.300 barras de controle que, regulam o processo de cisão num reator nuclear, absorvendo nêutrons e retardando a reação em cadeia,  foram reduzidas para diminuir a produção de energia para cerca de 20% da produção normal necessária para o teste.  No entanto, muitas barras foram reduzidas e a produção de energia caiu rapidamente, resultando na paragem quase completa do sistema de bomba de refrigeração.


O processo de aquecimento do reator nuclear (Fonte: news.bbc)

A partir daí, preocupados com a possível instabilidade, os engenheiros começaram a levantar as barras para aumentar a produção. Em 0030 foi tomada a decisão de continuar. Até 0100 o poder ainda era apenas cerca de 7%, necessitando que mais barras fossem levantadas. Então o sistema de desligamento automático foi desativado para permitir que o reator continuasse a trabalhar em condições de baixa potência. Enquanto isso os engenheiros continuaram a levantar as barras de controle para aumentar a produção. Ao chegar em 0123, a energia tinha alcançado 12% e o teste começou. Mas, segundos depois, os níveis de poder, de repente, subiram a níveis perigosos e o reator começou a superaquecer e na sua refrigeração a água começou a virar vapor. Neste ponto, acredita-se que todas as barras de controle levantadas tinham sido removidas do núcleo do reator, sendo que o número mínimo de funcionamento seguro foi considerado 30. Em conseqüência disso, o botão de parada de emergência foi pressionado. Com potência de 100 vezes o normal, as pastilhas de combustível no núcleo começaram a explodir, rompendo os canais de combustível. À cerca de 0124, duas explosões ocorreram, fazendo um telhado em forma de cúpula do reator ser arrancado e os conteúdos que o irromperam foram lançados para fora. Como o ar era sugado para o reator destruído, este inflamou o gás monóxido de carbono e causou um incêndio no reator que queimou por nove dias. Para piorar, pelo fato do reator não ter sido alojado em uma casca de concreto armado, como é prática normal na maioria dos países, o edifício sofreu danos graves e deixou escapar grandes quantidades de resíduos radioativos para a atmosfera.


O processo de aquecimento do reator nuclear (Fonte: news.bbc)

Durante o incêndio bombeiros tentaram controlar as chamas no telhado, enquanto helicópteros jogavam areia e chumbo, em um esforço conjunto para conter a radiação.
Os níveis de radiação eram pelo menos 100 vezes maior do que o poder radioativo das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Esse desastre abrangeu Chernobyl, partes da Bielorússia, Ucrânia e Rússia. Mais de 350.000 pessoas foram reassentadas longe dessas áreas, mas cerca de 5,5 milhões permaneceram no local.


Áreas abrangidas pela radiação (Fonte: news.bbc)

A contaminação com césio e estrôncio foi uma das principais preocupações, já que essas substâncias permaneceriam no solo por muitos anos, após o ocorrido. Posteriormente foram encontrados em todo o hemisfério norte resíduos radioativos e a direção do vento e das chuvas irregulares deixaram algumas áreas mais contaminadas que seus vizinhos imediatos. As explorações agrícolas de alguns países como a Escandinávia  e o Reino Unido também foram contaminadas pela radiação proveniente da usina de Chernobyl, tempos depois do acidente.


Formas de contaminação (Fonte: news.bbc)

Moscou demorou a admitir o que tinha acontecido, mesmo após os altos níveis radiação terem sido detectados por outros países. A falta de informação levou a reivindicações exageradas do número de mortos pela explosão na área imediata.  Por essa razão o número de pessoas que, eventualmente, podem ter morrido em virtude das conseqüências do acidente de Chernobyl ainda é altamente controversa. Um ‘extra’ de 9.000 mortes por câncer era previsto pela ONU no Fórum de Chernobyl. Mas ela diz que os problemas da maioria das pessoas são “econômicos e psicológicos, não sanitários e ambientais”. Já o Greenpeace está entre os que prevêem efeitos mais graves de saúde. Ele espera que pelo menos 93 mil mortes por câncer, em virtude do contato com a radiação, venha a acontecer, junto com outras doenças, elevando o número mortes resultantes da explosão radioativa para 200.000 mortos.


Vítima da radiação de Chernobyl (Fonte: blogln)

O impacto na saúde é mais evidente pelo aumento acentuado no câncer de tireóide em pessoas que viveram ou vivem em regiões que foram atingidas pelo incidente em Chernobyl. Cerca de 4.000 casos da doença foram observados, principalmente em pessoas que eram crianças ou adolescentes na época. As taxas de sobrevivência, no entanto, são altas e apenas 15 pessoas são conhecidas por terem morrido. Mas o Greenpeace diz que poderia vir a ser 60.000 casos da doença, entre 0s 270.000 casos de todos os cânceres.


Chernobyl após o incidente (Fonte: chernobylkidslondon)

O sarcófago (Fonte: news.bbc)

O sarcófago que ‘encerra’ Chernobyl foi construído às pressas e está se desintegrando. Apesar de ser reforçado para evitar e liberação de toneladas de poeira radioativa, há temores de que ele possa entrar em colapso e deixar todo esse material radioativo escapar. Para isso há uma previsão para a construção de um abrigo de reposição no valor de 600 milhões de dólares, projetado para durar 100 anos. Esse novo confinamento seguro de poeira radioativa será construído na área que abrange todo o local onde ocorreu a tragédia e depois sobre o sarcófago. Tal abrigo vai permitir que a estrutura de concreto possa ser desmontada para o tratamento do combustível nuclear e do reator danificado. O acesso ao interior será através das extremidades da estrutura. Apesar da contaminação duradoura da área, os cientistas ficaram surpreendidos com o ressurgimento dramático da vida selvagem no local. Populações de cavalo selvagem, javali e lobo estão prosperando, enquanto linces voltaram para a área e os pássaros têm a ninhada no edifício do reator, sem qualquer evidente mal efeito provocado pela radiação.

Animais vivendo normalmente em Chernobyl (Fonte: news.bbc)
Torcemos para que a tragédia ocorrida no Japão não chegue a este ponto e, tão logo, possam os cidadãos japoneses voltarem à sua vida normal.

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