quarta-feira, 2 de março de 2011

Pica – Comedores de terra, sabão e outras bizarrices

Um dia desses estava a ler algumas notícias quando me deparei com a seguinte manchete: “Jovem norte-americana sofre com compulsão por comer sabão”. Não é a primeira vez que ouço falar a respeito de pessoas que tem prazer em comer coisas estranhas. Vez ou outra, lemos notícias de pessoas que tem compulsão por comer terra ou cabelo, sendo que, na maioria dos casos é necessário submeter o indivíduo a uma lavagem estomacal para tirar o acúmulo de bizarrices do estômago e evitar infecções e outros problemas mais graves. A medicina dá o nome de PICA (do latim pega – um pássaro do hemisfério norte renomado por comer quase tudo o que aparece na sua frente) a esse distúrbio alimentar, caracterizado pela ingestão de substâncias ‘nada nutritivas’.

Tempestt em um de seus saborosos banquetes à base de sabão (Fonte: gistexpress)
           A pica, mais tecnicamente conhecida como alotriofagia ou alotriogeusia é uma condição rara que leva algumas pessoas a terem obsessão em ingerir substâncias não alimentares como terra, tecido, carvão, giz, moedas, pilhas (Rafael Ilha, alguém?) e, também, é incluído nesse conceito da doença aqueles que possuem uma vontade fora do comum em comer ingredientes de alimentos, como  farinha ou amido de milho e mandioca.
          Mas então como determinar se uma pessoa sofre desse distúrbio, já que, no caso das crianças, é muito comum saírem pela casa pondo na boca tudo o que vem pela frente? No caso da pica, o indivíduo só será diagnosticado com esse problema se sua ânsia por ingerir alimentos estranhos persistir por cerca de um mês, durante um período de sua vida, onde o consumo de coisas como excremento, pedrinhas ou botões serão considerados anormais para o desenvolvimento do sujeito. A pica é freqüentemente identificada em mulheres grávidas e em crianças que sofrem dificuldades em seu desenvolvimento infantil normal, mas tal transtorno pode surgir em qualquer idade.


Tempestt Henderson (Fonte: gentesemfuturo)

No caso da manchete citada no primeiro parágrafo, a matéria relatava o drama de Tempestt Henderson, uma estudante de enfermagem de 19 anos, que vive na Flórida, Estados Unidos, e come até cinco barras de sabão por semana, além de ingerir o mesmo material em pó. Ela revelou ao jornal Daily Mail que sempre soube que comer sabão era perigoso, entretanto Tempestt ignorou tal advertência e passou a se envenenar diariamente, ingerindo sabão e outros derivados desse produto. Após 6 meses de sofrimento a garota decidiu procurar um médico. A partir dessa consulta ela ficou sabendo que sofria com os sintomas da pica.


Cabelo retirado do estômago de um comedor compulsivo de cabelos (Fonte: fosselaumasereia)

Apesar de geralmente a origem do distúrbio estar associada à deficiência de minerais, o que explica por que mulheres grávidas podem desejar comer carvão, quando precisam de ferro, no caso de Tempestt, os médicos atribuíram o estresse como o fator determinante para a menina desenvolver tal compulsão por sabões. Segundo a própria, as coisas teriam ficado mais difíceis após a separação do namorado, que estava indo para faculdade.

Os comedores de terra

Dentre os casos de ingestões estranhas cometidas por algumas pessoas, uma das mais comuns é a ingestão de terra. Pessoas em muitas partes do mundo se permitem à curiosa prática de comer terra, também conhecida com geofagia. Mas por que o fazem permanecia um certo mistério. Agora, um novo estudo visa mostrar que a argila pode ser vital na proteção de mulheres grávidas.
Os habitantes da ilha de Pemba, no leste da África, exultam quando uma de suas jovens mulheres começa a comer terra. Este suplemento alimentar incomum só pode significar uma coisa: que ela está esperando um bebê.
"Uma porção diária é de cerca de 25 gramas de terra", disse Sera Young, que trabalha em tempo integral na pesquisa da geofagia. A antropóloga de 30 anos logo se transferirá da Universidade de Cornell para a Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Em todo continente há pessoas que comem greda, argila ou marga. Mas apenas agora Young e seus colegas estão começando a entender que forças as levam a fazer isso. Independente das pessoas estarem comendo argila de fontes naturais ou comprando "argila medicinal" na farmácia para comer, elas estão claramente seguindo algum anseio ancestral que se desenvolveu ao longo da evolução.


Vendedoras de argila para consumo (Fonte: oficinadesociologia)

Não são apenas seres humanos que comem um pouco de terra de vez em quando -papagaios, gado, ratos, elefantes e chimpanzés também o fazem. Até mesmo homens pré-históricos compartilhavam esta paixão por comer terra - uma escavação arqueológica na África encontrou marga (um tipo de calcário) em pó que claramente era usada como ração de marcha há dois milhões de anos. Mas a pergunta permanece: por quê?
Em seus estudos de campo na ilha de Pemba, que pertence à Tanzânia, Young observou que principalmente as mulheres grávidas sentiam desejo por terra. "É como um vício. Há até mesmo uma palavra para isso: 'vileo'", ela disse.
Mas as mulheres grávidas não simplesmente recolhem sua refeição terrena na rua. Na verdade, elas não medem esforços para assegurar que seja o tipo certo de terra. Elas raspam marga de fontes específicas ou a coletam em certos locais fora de suas aldeias. "A terra não pode ser suja", explicou Young.
A seletividade dos comedores de terra chamou a atenção do naturalista alemão Alexander von Humboldt há 200 anos, quando ele passou algum tempo onde atualmente é a Venezuela. O povo indígena otomaque, ele notou, preferia as camadas aluviais onde era encontrada "mais espessa, com melhor sensação".
O fato de os indígenas devorarem terra em "quantidades tremendas" e a guardarem para tempos de dificuldade, na forma de bolas de argila secas, levou Humboldt a supor que a geofagia era usada como solução improvisada para momentos de escassez de alimentos. De fato, as pessoas comiam terra particularmente em momentos difíceis, como no Haiti em 2004, quando os moradores das favelas recebiam bolos de manteiga, sal, água e terra.
Mas esta hipótese da fome não explica o fenômeno plenamente. A terra também está no cardápio de pessoas que se alimentam bem. Logo, muitos pesquisadores acham que a terra funciona como um medicamento natural. A marga, afinal, contém magnésio, sódio, cálcio, potássio, ferro e uma grande quantidade de minerais. Em casos de diarréia severa, segundo alguns cientistas, uma colher de chá de terra poderia fornecer ao corpo os minerais perdidos.

Fonte: (doencaspsicologicas12)

No entanto, Peter Hooda, um pesquisador de solo britânico, descobriu indícios de que, pelo contrário, a marga tira mais do corpo do que fornece. O cientista e sua equipe chegaram a esta conclusão surpreendente depois de realizar uma simulação em laboratório da interação entre a terra e o trato digestivo. Eles misturaram marga, ácido gástrico e nutrientes, deixaram a mistura barrenta à temperatura do corpo por tempo suficiente para reagir plenamente e então analisaram o composto resultante.

Um desentoxicante natural para o estômago

Os resultados mostraram que muitos nutrientes se ligaram firmemente às estruturas microscopicamente pequenas na marga. Isto levou a uma redução significativa no ferro, zinco e cobre disponíveis no banho de lama, o que estava de acordo com uma das observações de Young em Pemba: muitos dos apreciadores de marga eram anêmicos e apresentavam níveis baixos de ferro no sangue.
Mas em algumas circunstâncias, supõe a antropóloga, o efeito lixiviante da terra poderia ser uma vantagem. "A terra pode ajudar a remover toxinas do corpo." Esta teoria é apoiada por algo que Young notou após estudar mais de 2.700 casos relevantes na literatura sobre o assunto: crianças pequenas e mulheres grávida - pessoas para as quais uma intoxicação pode ser particularmente séria - fazem uso particularmente freqüente deste recurso natural.
Até agora, o enjôo matinal era visto como um mecanismo evolutivo desenvolvido para proteger a criança ainda não nascida das substâncias prejudiciais nos alimentos. Seria a geofagia uma estratégia adicional?

Mulher fazendo biscoitos de terra (Fonte: paypointusa77)
Em uma tentativa de dar mais substância à sua teoria, Young está atualmente acompanhando a análise de mais de 30 amostras de terra de Pemba, Quirguistão, Indonésia e outras áreas pelo Instituto Macaulay, em Aberdeen, Escócia, para entender até que ponto elas possuem potencial químico de remover as toxinas dos alimentos.
As análises poderão fornecer prova científica do que muitos comedores de terra sempre disseram: a terra limpa o estômago.

Os tipos de pica

Dependendo do tipo de alimentação anormal que o indivíduo acometido pela pica tem, ela se encaixará em uma das seguintes subcategorias:

1 comentários:

Greendeiro disse...

Faremos uma gincana legal de adivinhação para ver quem me leva. Certo, esta palavra de quatro letras descreve um órgão sexual ou a compulsão de comer terra. - Sheldon Cooper

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